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Sete Lagoas participa do '8º Encontro Mineiro das Comunidades de Base'

Evento foi realizado em Ipanema-MG, região da Zona da Mata

23/07/2019 às 15h28 Atualizada em 23/07/2019 às 15h37
Por: Redação Fonte: CEBs de Minas Gerais
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Sete Lagoas participa do '8º Encontro Mineiro das Comunidades de Base'

Gente de fé, membros da Igreja viva, vindos das várias regiões de Minas Gerais, entre as quais de Sete Lagoas, se encontraram em Ipanema-MG, região da Zona da Mata para mais um encontro das Comunidades Eclesiais de Base. Sob o tema: “Os desafios de uma Igreja em saída, na construção da sociedade do bem viver e conviver.” Entraram-se mais de 600 participantes vindos das várias regiões de todo o Estado de Minas.

Um clima de muita fé, alegria e fraternidade, na busca de somar forças para reforçar a presença missionária na Igreja e na sociedade. Tendo como lema a profecia de Isaías: “Criarei um novo céu e uma nova terra e nunca mais haverá choro ou clamor” (Is 65,17.19).

De maneira muito participativa, aconteceram fortes momentos de espiritualidade, com uma liturgia contagiante e ligada com a vida. Os dias de encontro (19 a 21/07/2019) foram marcados pelo presença de Deus, na escuta de sua Palavra, que ressoava nos participantes e se traduziam em preces, louvores, denúncia das injustiças e anúncio da Boa Nova do Reino de Deus.

 “Criarei um novo céu e uma nova terra e nunca mais haverá choro ou clamor (Is 65,17.19).”

Na noite de abertura foi lida a mensagem enviada por Dom Paulo Mendes Peixoto, Arcebispo de Uberada-MG, recentemente nomeado bispo referencial das CEBs no Regional Leste II. Em sua mensagem ao povo de Deus, reunido em Ipanema, ele salientou a necessidade de somar forças para “construir uma sociedade em que o desenvolvimento econômico não seja priorizado, mas oportunidade para todos e defenda a casa comum.” Destacou ainda que “este encontro é de grande utilidade para a caminhada e as práticas concretas das CEBs, como jeito próprio de ser Igreja nas bases.”

Pe. Eli, atual pároco de Ipanema-MG, em sua palavra de boas vindas, manifestou sua alegria em acolher um encontro desta grandeza junto a seus paroquianos, ainda mais nestes tempos em que a esperança cristã é desafiada. Manifestou seu desejo de que este 8º encontro mineiro de CEBs alimente e fortaleça a esperança em todas as comunidades de Minas.

Dom Emanuel, bispo da Diocese de Caratinga-MG, que  – Acolheu com alegria e esperança a todos os participantes, salientou: “Estou aqui apoiando e dando presença a este 8º Encontro mineiro das CEBs. “Novo céu e nova terra”, a partir desta profecia bíblica, a utopia do Reino que nos faz a todos mais missionários.

Pe. Alfredo Gonçalves, missionário scalabriniano, atualmente residente no Rio de Janeiro, e Sônia Gomes de Oliveira, de Montes Claros e atual presidenta do Conselho Nacional do laicato do Brasil, foram responsáveis por desenvolver a reflexão em torno do Tema do 8º encontro mineiro de CEBs. Pe. Alfredinho apontou cinco “janelas” pelas quais podemos enxergar melhor a realidade e os desafios em nosso contexto atual. Sônia partilhou a experiência articulação dos trabalhos de comunidade em uma rede de solidariedade na qual fé e vida andam juntas e tem recuperado a vida, a dignidade e a esperança de muitas pessoas no norte de Minas.

Cinco janelas para o horizonte

Pe. Alfredinho, utilizando-se da imagem da janela, destacou que quanto mais nos aproximamos dela, mais se alarga o horizonte da nossa visão. Em sua reflexão ele apontou cinco janelas que nos permitem enxergar melhor a realidade, os sintomas sociais e eclesiais que nos desafiam na atualidade. 

 Padre Alfredinho – Assessor do Encontro

Assim ele identificou estas janelas:

  1. Somos partículas do universo. Até quase final do Séc. XX, predominou uma visão predatória sobre a natureza, voltada para o mercantilismo, na qual o Ocidente acabou com a maioria de suas florestas, poluiu o ar, a terra, as águas, através de uma exploração desenfreada. No Séc. XXI, avançamos para um olhar de relação, de convivência com o universo. Temos a missão de “cuidar da nossa casa comum”. A história humana e o universo constituem um organismo vivo. Tudo está interligado. Se nosso olhar é de superioridade, destruímos a natureza e a vida. Se nosso olhar é relacional, a atitude é de cuidado de preservação.
  2. A Terra está doente. Este organismo vivo, (história e universo – como uma coisa só), está doente, está na UTI. Quais os sintomas? Desemprego, subemprego, trabalho informal (25%, ou seja, ¼ da população economicamente ativa, no Brasil, encontra-se nesta situação); 250 milhões de pessoas vivem fora de seus países de origem. A mudança climática: extremos de calor e de frio; nevascas como nunca aconteceram, são sinais de que o planeta está doente, por causa do efeito do aquecimento global. Em Minas os sintomas da “febre” se manifesta no rompimento de barragens e todo o clima de insegurança e destruição que elas representam. Tudo isso é um indicador de que a relação do ser humano com o universo não está sadia.
  3. Um organismo doente gera neuroses. As neuroses são mais invisíveis que as febres. Um dos seus principais sintomas é o medo. – medo de que a barragem se rompa, medo do vizinho, medo de perder emprego, medo de ser assaltado… – Há uma neurose espalhada pelo Brasil e o mundo. O medo gera xenofobia (medo do estrangeiro, do outro, do diferente). Medo que paralisa, que gera insegurança, instabilidade, suicídio, depressão… Medo de que os leigos caminhem de forma autônoma… Essas neuroses estão presentes. A dita “nova política” não tem nada de novo, é uma política do medo e que gera medo. O Brasil, a América Latina quase toda está afligida pelo medo.
  4. Retorno da extrema direita no mundo inteiro (Turquia, filipinas, França, Alemanha, Itália, EUA, Argentina, Brasil…). O que explica esse avanço revestido de um nacionalismo extremista? As febres e neuroses criam um clima de insegurança e medo, crise é terreno forte para governos fortes. A crise leva a abdicar da liberdade a troco do pão, da segurança… O problema é que esses presidentes autoritários representam uma fatia muito grande da população, são porta-vozes da população… Em tempos de crise, não queremos liberdade, favorece uma “política de Pitbull”. Reforça ainda mais o autoritarismo que contamina o todos os poderes. Quando uma pessoa está deprimida, ela se autoacusa. Quando um povo está deprimido suas energias se voltam contra si mesmo e provoca uma fragmentação enorme das forças sociais.
  5. Retropia, tentar reviver a utopia do passado. Tempo de crise, nos leva ao berço, ao colo da mãe, nos leva a voltar à infância e nos faz chorar um pouco… O choro nos cega. Quem consegue ultrapassar o momento do berço, avança para a encruzilhada (vence o chororô) e avança para caminhos novos, para outras possibilidades que se descortinam. Encruzilhada é o lugar onde vários caminhos se encontram…Tempo de crise, não é tempo de colheita, é tempo de semeadura. Nenhuma geração faz duas colheitas. Agora é tempo de plantar… O protagonista da história é povo de Deus, os jovens, que muitas vezes, não sabemos ouvir. Em tempo de crise, não se colhe, se semeia… 

 

Experiência do Norte de Minas (Sônia 

Ela iniciou situando a Região do Norte de Minas, marcada por uma enorme desigualdade social, resquício de paternalismo e coronelismo enormes, de uma degradação ambiental, enorme ciclo de migração, terra marcada por viúvas de maridos vivos, alto índice de prostituição e exploração sexual de crianças, o velho Chico (Rio São Francisco) pedindo socorro. Neste chão atuamos e aí surge uma grande esperança.

A criação da rede de solidariedade. Ninguém faz nada sozinho. As pastorais sociais tiveram quedas bruscas, mas resistimos. Amadurecemos na caminhada conhecendo nossas limitações e nossas forças. Não podemos perder a Palavra, então fortalecemos os círculos bíblicos e retiros espirituais em sintonia com a vida do povo.

Enorme índice de feminicídio, de catadores de material reciclável,… Começamos com planejamento anual. Com projeto municipal de política pública para as mulheres. Plano municipal… Semanalmente presente nestes espaços. Capacitação das lideranças leigas para a participação nos conselhos (43 conselhos). Estamos preparando por meio de encontro de conselheiros e escola de formação de fé e política, com formação em doutrina social da Igreja. Cobramos testemunho cristão nestes ambientes. Procuramos criar proximidade com todas as forças sociais. O trabalho com o povo de rua é feito pela juventude. Aproximação em rodas de conversa sobre a violência doméstica, o abuso de criança, a roda de conversas com pessoas encarceradas…

Uma das forças de Montes Claros foi nunca ter deixado de fazer o grito dos excluídos. É preciso sempre colocar as pessoas na rua. Nosso desejo é estar na praça, lá somos vistos, uma Igreja em saída. Aprendemos com Paulo que é na praça que tomamos as grandes decisões. O sertão seco está florindo a partir da organização do povo, na certeza de que não estamos sozinhos. A gente ri, faz festa, caminhamos em harmonia e mantendo sempre aberto os espaços com a Igreja. Nossa missão não é de subserviência, mas de viver o nosso batismo diante dos desafios à nossa frente.

Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar de Belo Horizonte, também presente no Encontro, destacou a luta e a resistência do povo de Brumadinho diante do drama do rompimento da Barragem da Vale acontecido na cidade. Destacou a necessidade de ampliar a Doutrina Social da Igreja para a Doutrina Social e Ambiental, incluindo a preocupação com defesa e preservação da nossa Casa Comum, conforme apelos do Papa Francisco.

Que este encontro ajude a fecundar de esperança toda a Igreja de Minas Gerais…

Por Denilson Mariano

 

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