Os professores brasileiros estão perdendo um terço de seu tempo em sala de aula apenas para manter a turma em ordem e executar atividades administrativas, além de precisarem intervir frequentemente em casos de bullying sofrido por alunos. A constatação é da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem, divulgada nesta quarta-feira (19) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Enquanto no Brasil, um educador consegue dedicar apenas 67% da aula ao processo de aprendizagem, a média mundial, com base em resultados de 48 países, é de 78%. O levantamento também revela que 28% dos diretores registram casos semanais de intimidação e bullying entre crianças e adolescentes, percentual alto se comparado com a média internacional, que é de 13%.
Quem dedica a vida a ensinar alunos das redes pública e particular nas escolas de Minas Gerais – Estado que também foi contemplado no estudo – confirma que é preciso ter jogo de cintura para lidar com a indisciplina e a falta de empatia. “Infelizmente, a figura do educador não é respeitada. Perdemos muito tempo pedindo estudantes para se sentarem, pegarem os cadernos, não fazerem barulho. É doloroso”, desabafa Lucienne de Castro Gomes, que leciona inglês na rede municipal de BH.
Professora de arte em uma escola municipal da capital, Eliani Silveira também vê sua rotina representada na pesquisa: “É fato. Nós gastamos muito tempo com a disciplina. É muito difícil para o aluno entender que ele está na escola para estudar”. Ela avalia que, em função disso, o interesse do estudante precisa ser conquistado pelo professor. “A gente tem que criar metodologias para trazê-lo para mais perto do conhecimento. Só que isso implica investimento, e o governo brasileiro não está interessado em gastar”, afirma.
Como indicam os números da OCDE, a frequência com que o bullying ocorre entre alunos também é alvo de preocupação nas salas de aula mineiras. “Esse dado nos preocupa consideravelmente”, comenta Zuleica Ávila, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG). Para ela, “quando as pesquisas apontam desafios que as escolas precisam refletir, buscar solução e enfrentar o problema, sempre levando em consideração o aluno, que está em formação”.
“Menos tempo é menos conteúdo”
Os resultados da pesquisa da OCDE acendem um alerta sobre a necessidade de investir no desenvolvimento das habilidades cognitivas e socioemocionais dos alunos, avalia o especialista em educação e fundador do Programa Semente, Eduardo Calbucci. “Menos tempo de aula significa menos conteúdo. Já o bullying cria um ambiente em que o respeito à diferença não se manifesta como deveria”, observa.
Segundo a superintendente de Políticas Públicas da Secretaria de Estado de Educação, Kellen Senra, Minas tem investido em mecanismos para enfrentar os problemas: “Iniciativas como o Programa de Convivência Democrática levam para a escola a discussão sobre bullying”. Quanto ao tempo perdido em atividades administrativas, Kellen diz que o Estado já investe em chamadas eletrônicas para poupar tempo.
Outro lado
Sem valor. Segundo a pesquisa, só cerca de 10% dos professores brasileiros do ensino fundamental acreditam que a profissão é valorizada. A percepção está abaixo da média internacional, de 32%.
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