Aproximadamente 114 mil mineiros tiveram suas atividades diárias limitadas por causa da depressão, segundo números da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número leva em consideração a população adulta, o que significa que a doença afeta diretamente a mão de obra economicamente ativa.
De acordo com o IBGE, a população diagnosticada com depressão em grau intenso ou muito intenso no Estado equivalia a 20,6% de todas as pessoas com o problema na região Sudeste em 2013. Sozinha, a população depressiva mineira que teve atividades limitadas à época era maior que as 105 mil pessoas na mesma situação de toda a região Centro-Oeste e as 39 mil da região Norte. Em âmbito nacional, dos 1,32 milhão de pacientes do tipo no Brasil, 8,6% estavam em Minas Gerais.
De acordo com o médico psiquiatra José Sardella, o trabalhador que sofre com a depressão ainda passa por um processo de preconceito contra o mal em si de várias formas. “Existe um estigma de que a depressão é uma fraqueza e não uma patologia. Os homens, que sofrem essa pressão social, chegam para o tratamento com depressão de dois ou três anos de evolução. No caso das mulheres, (a visão) é que falta religião ou falta o que fazer”, afirmou. O diagnóstico precoce evita problemas mais graves e possibilita a volta mais rápida ao trabalho.
A depressão entre adultos ativos, de acordo com Sardella, tem entre as causas básicas problemas pessoais, pressões do trabalho e causas hereditárias. Entre os sintomas iniciais da doença, que podem ajudar no diagnóstico na fase inicial do problema, estão aumento da irritabilidade e de ansiedade, distúrbio no apetite e do sono, além da baixa da libido. O tratamento envolve tratamento psicológico, acompanhamento médico e aplicação de medicamentos.
Entrave
Trabalhadores com diagnóstico de depressão têm dificuldade de conseguir afastamento da empresa no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). De acordo com a psicóloga Rejane Queiroz, falta um critério claro entre peritos para conceder licença aos trabalhadores com depressão de suas atividades legalmente. “Normalmente, pedimos (o afastamento) em casos de depressão grave e, mesmo quando o paciente não tem condições de fazer atividades, ao chegar no INSS, a depender do perito, talvez por uma visão pessoal, ele afirma não ser um quadro para afastamento”, disse.
No caso das empresas, ainda segundo a psicóloga, existe uma dificuldade de entendimento de que aquele problema de saúde demande a suspensão das atividades legalmente.
Em tratamento
Há dois anos, Malú Gomes de Souza recebeu licença da atividade de promotora de vendas após perder a filha de 5 anos vítima de câncer. A mãe disse que chegou a tentar trabalhar, mas não conseguiu nos meses entre a morte da criança e o período em que foi afastada das atividades de vendas.
O problema de saúde foi agravado e houve ainda o desenvolvimento de bipolaridade e síndrome do pânico, o que a impossibilitou de continuar com suas atividades profissionais. Atualmente, Malú de Souza passa por tratamento para tentar melhorar a condição. “Não consigo voltar a trabalhar, não consigo conviver em sociedade”, afirmou.
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