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Projeto escolar se transforma em aplicativo para ajudar mulheres vítimas de violência doméstica

O FemHelp, lançado há cerca de duas semanas, já teve 100 downloads realizados e a expectativa é que com a visibilidade da plataforma, mais mulheres possam utilizar o serviço, que é gratuito

18/01/2019 às 08h55
Por: Redação
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As criadoras do aplicativo tinham apenas 17 anos quando tiveram a ideia para apresentar na Feira de Ciências
As criadoras do aplicativo tinham apenas 17 anos quando tiveram a ideia para apresentar na Feira de Ciências

Quando participaram da Feira de Ciências na Escola Estadual David Campista, em Poços de Caldas, no Sul de Minas, em 2017, as irmãs Laisa e Tamara Tavares, hoje com 18 anos, e a amiga Taisha Almeida, de 19, nem imaginavam que o projeto escolar se tornaria um aplicativo que hoje já ajuda várias mulheres vítimas de violência doméstica.

O FemHelp, lançado há cerca de duas semanas, já teve 100 downloads realizados e a expectativa é que com a visibilidade da plataforma, mais mulheres possam utilizar o serviço, que é gratuito. No app, as criadoras disponibilizam informações como a legislação em torno dos crimes contra a mulher, relatos de vítimas e os caminhos para se fazer a denúncia, além de um espaço onde elas podem conversar entre si e trocar experiências

Após o lançamento do app, a estudante Laisa Tavares conta que já recebeu diversos feedbacks positivos, inclusive de vítimas que, antes, não tinham coragem de fazer a denúncia.

"Na plataforma nós direcionamos as mulheres que sofrem violência doméstica a denunicar seus agressores, disponibilizando informações como os contatos da PM da cidade e do Centro de Referência de Assistência Social da cidade. E há um 'mural' onde elas contam suas histórias e um chat onde apoiam umas às outras, o que dá força também para fazer a denúncia".

A ideia nasceu da própria percepção das estudantes que, mesmo tão jovens, já presenciavam casos de violência doméstica bem próximos a elas. "A gente via muita violência contra mulheres acontecendo, a minha tia mesmo sofria violência psicológica de um ex-marido e fomos acompanhando a história dela e vendo ela ficar presa àquele relacionamento. Isso é um um assunto muito recorrente quando se é mulher. Começamos a pensar em um jeito de ajudar as vítimas a pedirem socorro. Não temos o poder de prender os agressores, mas pelo menos poderíamos ajudar criando uma espécie de apoio psicológico e um direcionamento", lembra Laisa. 

O burburinho em torno do serviço começou entre as próprias colegas de escola das jovens, que confidenciaram que também tinham problemas em encontrar os caminhos e a coragem para denunciar. Mas, a afinidade com o tema, além do fator biológico e cultural – nascer mulher em uma sociedade machista – também fez as amigas se atentarem a outros tipos de violência de gênero, além da doméstica.

"Também percebíamos como o machismo influencia na vida da mulher, para citar um exemplo, a desigualdade salarial. E dentro da nossa escola mesmo, a gente percebe que quando as professoras que estão em sala de aula são mulheres elas são muito mais desrespeitadas pelos alunos do que os professores homens", comenta.

O aplicativo está disponível para download nos celulares com sistema Android e também acaba de ser liberado para os celulares da Apple. Nas páginas da FemHelp no Facebook e Instagram, é possível conferir como baixar a plataforma.

App

Dois anos e 300 reais

Da concepção do serviço na Feira de Ciências em 2017, passando pela midiatização da ideia, desenvolvimento do aplicativo e, enfim, seu lançamento no início deste ano, as jovens Laisa, Taisha e Tamara contaram com a ajuda de uma professora da escola e encontraram apoio nas autoridades políticas da cidade.

"Quando pensamos no projeto na Feira de Ciências, uma professora, que também é assistente social, começou a nos ajudar a desenvolver a ideia e também dar visibilidade por meio da mídia. Com esse impulso inicial, começamos a criar várias contas nas redes sociais e depois o pessoal da cidade, os vereadores mesmo, abraçaram a ideia e nos ajudaram a transformar a ideia em aplicativo", relara Laisa.

Um dos feedbacks foi postado na página do FemHelp no Facebook antes mesmo da criação do aplicativo: "Oi, eu tinha curtido a página uma vez e vocês me ajudaram a sair de um relacionamento abusivo. Tive que fazer esse outro Facebook porque meu ex raqueou o primeiro. Muito obrigada, hoje ajudo uma amiga com as coisas que aprendo aqui", diz o relato. 

Para tranformar a ideia em aplicativo foi preciso o investimento de apenas R$ 300,00 aproximadamente, que foi facilitado pelo vereador Gustavo Bonafé (PSDB).

Hoje, as criadoras da plataforma são convidadas para dar palestras em escolas, em órgãos da prefeitura e em outras entidades sobre a experiência com o desenvolvimento do projeto e alertando sobre a violência doméstica e a necessidade de se fazer a denúncia. Recentemente, elas também foram homenageadas na Câmara dos Vereadores da cidade e pretendem divulgar intensamente o serviço para ajudar mais mulheres.

"A gente não está pensando em retorno financeiro, até porque o app é gratuito e não vai deixar de ser. Estamos querendo dar mais visibilidade para que um número maior de mulheres possam ser alcançadas, eu gostaria que o serviço fosse conhecido até mesmo fora do país. A gente sonha alto mesmo", brinca Laisa.

Alerta 

Como mostrou a reportagem do Hoje em Dia, publicada nessa quinta-feira (15), a cada hora, 15 mulheres sofrem algum tipo de violência doméstica em Minas. Só nos primeiros seis dias do ano, 2.186 se tornaram vítimas dentro da própria casa. O crime engloba da agressão verbal à física e termina, não raro, em morte. Somente nas duas primeiras semanas de 2019, 10 mulheres já foram vítimas de feminicídio no Estado e a tendência é que este número cresça ainda mais. Especialistas e até autoridades são unânimes em afirmar que a cultura machista e violenta da sociedade motiva a covardia.

Por Juliana Baeta - Hoje em Dia

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