O que você faria com R$ 44 a mais por mês? O valor é exatamente o aumento que o salário mínimo teve neste início de ano, na comparação com o ano anterior. O salário passou de R$ 954 para R$ 998, o que representa uma alta de 4,61%. “Não dá para fazer quase nada. Além do mais, o salário pode aumentar um pouco, mas as coisas sobem mais”, reclama a cozinheira Aparecida Ferreira, que recebe um salário mínimo por mês.
O aposentado Paulo Roberto Silva conta que ganha pouco mais de um salário, mas sua situação financeira não é das melhores. “Eu vivo apertado, e olha que tenho casa própria e não pago aluguel. Quem recebe um salário, tem filhos e precisa pagar aluguel fica numa situação ainda mais complicada”, analisa.
A autônoma Taís Natália Torres de Oliveira considera o valor do salário mínimo muito baixo. “Eu ganho mais sendo autônoma. O aumento deveria ser de, pelo menos, R$ 60”, diz.
Em todo o país, cerca de 48 milhões de pessoas recebem o salário mínimo, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Apesar de ser considerado baixo pela população, o reajuste de 2019 foi o primeiro acima da inflação nos últimos três anos. O ganho real foi de 1,1%.
O salário mínimo é usado como referência para os benefícios assistenciais e previdenciários. O mínimo é corrigido pela inflação do ano anterior medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) – que é a soma dos bens e dos serviços produzidos no país – dos dois anos anteriores.
Este ano é o último em que essa fórmula de correção do mínimo, em uso desde 2012, está valendo. O novo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), ainda não detalhou qual será sua proposta para o salário mínimo de 2020 em diante. Segundo o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, o salário mínimo necessário para cobrir os gastos básicos de uma família formada por um casal e duas crianças, baseado na Constituição, deveria ser entre R$ 3.800 e R$ 4.000.
Com o valor do salário mínimo em R$ 998, e a cesta básica para família de quatro pessoas estimada em R$ 450, será possível comprar o equivalente a 2,22 cestas básicas calculadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A quantidade de 2,22 cestas básicas é a maior verificada desde o ano de 1995, porém é muito semelhante ao valor registrado nos últimos três anos.
Considerando-se a série histórica do salário mínimo e atualizando-se os valores médios anuais para reais de 1º de janeiro de 2019 (deflacionados por projeção do Índice do Custo de Vida, o ICV), observa-se que o valor de R$ 998 estabelecido em 1º de janeiro de 2019, embora seja o maior da série, mantém-se em patamar próximo ao registrado nos últimos anos.
O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, ressalta que o salário mínimo deveria ser maior, mas que a alta do mesmo não depende de uma “canetada” do presidente. “É preciso que haja condições econômicas para que isso ocorra, já que há impacto para as empresas e nas contas públicas”, diz. Cada R$ 1 acrescido ao salário mínimo tem impacto estimado de R$ 302,723 milhões por ano sobre a folha de benefícios pagos pela Previdência Social.
Por Juliana Gontijo - OTempo
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