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Conexão de risco: nove em cada dez crianças e adolescentes usam celular para acessar a web

O acesso dificulta o controle dos pais, se comparado ao uso compartilhado de um computador, e ainda pode deixá-los vulneráveis a conteúdos perigosos

29/12/2018 às 08h37
Por: Redação
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DIÁLOGO – Nas conversas com a filha Manuela, Luciana busca mostrar o que pode ou não na internet; garota é monitorada de perto pela mãe
DIÁLOGO – Nas conversas com a filha Manuela, Luciana busca mostrar o que pode ou não na internet; garota é monitorada de perto pela mãe

Para crianças e adolescentes, férias é sinônimo de mais tempo livre para atividades longe da sala de aula. Para os pais, porém, o recesso escolar requer atenção redobrada com os filhos, principalmente os que têm celular. O vasto mundo da internet oferece muitas possibilidades, inclusive riscos. E o público de 9 a 17 anos conectado à rede, por meio do telefone, só cresce.

É o que mostra pesquisa divulgada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), ligado ao Comitê Gestor da Internet do Brasil (Cgi.br). O levantamento aponta que nove em cada dez jovens desta faixa etária usam o aparelho para ficar on-line. 

O acesso dificulta o controle dos pais, se comparado ao uso compartilhado de um computador, e ainda pode deixá-los vulneráveis a conteúdos perigosos. As estatísticas indicam que 19% pesquisaram métodos para emagrecer, 15% formas de se machucar e 13% como cometer suicídio. 

Pelo telefone, os riscos são potencializados, explica a psicóloga Débora Galvani. “A facilidade de esconder algo é maior, principalmente os adolescentes, que facilmente apagam conversas no WhatsApp e baixam aplicativos que trancam conteúdos. 

Muitas vezes, o pai nem sabe que eles têm esses sistemas”. O diálogo é a aposta para evitar essas situações. “A família precisa preparar os filhos para a internet, ensiná-los a se proteger”, pontua Débora Galvani.

 NORMAS – Gabriela colocou regras para Ana Carolina e Eduardo usarem a internet

É o que tem feito a administradora Luciana Guimarães, de 47 anos. A filha Manuela, de 11, ganhou o primeiro celular aos 7, para conversar com o pai, que mora em Brasília. 

“Monitoro as fotos postadas, aceito ou não quem pede para seguir. No aplicativo de mensagens, ela conversa com amigas e está em grupos escolares. Troco ideias com outras mães. Converso muito. Embora seja tímida, falamos sobre o que pode para a idade dela”.

Orientações

Estar de olhos atentos é a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Manual elaborado pela entidade aponta que a tecnologia influencia os hábitos desde a infância e pode causar prejuízos à saúde.

Membro do Departamento Científico de Adolescência da SBP, Evelyn Eisenstein sugere aos pais colocar regras. “Desligar o aparelho uma hora antes de dormir, ficar um dia ou fim de semana sem internet”, exemplifica.

Cerco

Mãe de Ana Carolina, de 11 anos, e Eduardo, de 5, a analista econômica Gabriela Nogueira, de 44, deu à filha um celular depois de ela ter relatado que se sentia isolada dos amigos. A mulher disse ter estabelecido regras para a menina usar o aparelho. 

Porém, confessa que, com a correria do dia a dia, não consegue monitorar a criança no aparelho. “Meu marido baixou um aplicativo que controla os acessos. Apesar disso, a única vez que vimos a necessidade de chamar a atenção foi quando passou tempo demais on-line”.

Consultórios têm queixas de doenças incomuns à faixa etária

Doenças que nem eram tão comuns entre crianças e adolescentes estão cada vez mais recorrentes nos consultórios dos pediatras. Muitas ocorrências são atribuídas ao uso constante da tecnologia, afirmam especialistas.

Dificuldade de socialização, ansiedade e problemas de postura são alguns dos riscos. “Temos pacientes com síndrome do olho seco, porque ficam muito tempo sem piscar”, diz a médica Evelyn Eisenstein, da Sociedade Brasileira de Pediatria. Dores no ouvido também são queixas frequentes, causadas pelo alto volume dos fones.

A turismóloga Erika Ratts, de 33 anos, limita o acesso da filha Manuela, de 9, no tablet. “Não deixo usar em dias de semana, e, quando ela mexe, chega um e-mail para mim. Fico em cima”, afirma. 

Quem também coloca rédea curta é a administradora Erica Rache, de 48. Mãe dos gêmeos Arthur e Gabriel, de 13, e de Bárbara, de 11, ela faz questão que as crianças utilizem o computador e joguem videogame nos horários combinados. Quando a família se reúne para as refeições, a ordem é se desconectar.

“Agora, nas férias, a gente libera mais. Mas jogos eletrônicos só depois de trocar de roupa e tomar café. Após o almoço, e se comer tudo, podem brincar. Eles já sabem que existem limites”, pontua.

Entrevista com Filomena Camilo

A pediatra Filomena Camilo ministra palestras para esclarecer dúvidas dos pais sobre a criação dos filhos. Confira a entrevista concedida ao Hoje em Dia.

Quais as dificuldades na criação dos filhos no século 21?

Conciliar o uso racional da mídia, de forma que a criança consiga usufruir tudo de bom que a tecnologia oferece. A tecnologia é maravilhosa, abre o mundo para ela. Porém, tem risco. O excesso também é prejudicial. Se a criança fica conectada por períodos longos, pode se tornar sedentária, pois não terá tempo para mais nada. Ficará obesa, terá alterações de humor, de comportamento. Sozinha, pode ter acesso a muitos conteúdos, inclusive pornografia e droga.

O que fazer para evitar situações como essas?

Os pais precisam estar empenhados na construção da estima. A criança precisa se sentir amada. Tem que ser capaz de olhar no espelho e estar bem com a imagem dela. Construir estima é estar junto, olhar um para outro.

E como lidar com a privacidade das crianças?

Privacidade? Sem chance. Quem paga as contas? Quem olha o celular são os pais. Simples assim. Não pode ter medo. Quem responde é o pai e a mãe. Alguns conseguiram uma saída e arrumaram um “pai amigão”. Mas isso não existe. Pai é pai, mãe é mãe. Não estão no mesmo nível dos filhos. Precisam ter firmeza sobre eles. Não é autoritarismo, é autoridade.

Por Lucas Eduardo Soares - Fotos: Flávio Tavares / Hoje em Dia

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