A crise econômica que abalou os cofres das empresas brasileiras encolheu também o salário do trabalhador. De acordo com o último Caged, divulgado em 21 de setembro pelo Ministério do Trabalho, indústria, construção civil e agropecuária passaram a oferecer remunerações menores aos funcionários. A queda acumulada no ano chega a 12%.
Conforme o Caged, extração mineral foi o setor que apresentou a maior redução salarial neste ano, de 12,11%, seguido pela indústria de transformação, que inclui fábrica de calçados, alimentos e bebidas, com retração de 6%. Construção civil e agropecuária também sofreram queda desde dezembro de 2017, com diminuição de 1,38% e 2,55%, respectivamente.
Em Minas, o cenário não é diferente do restante do país. Segundo Daniel Furletti, economista e coordenador do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), a redução dos salários deve ser analisada dentro de um contexto macroeconômico.
“O faturamento da construção civil caiu 23% no Estado, entre 2014 e 2017. Iniciamos o ano com a perspectiva de crescer 2%, mas agora já estimamos uma nova queda entre 0,6% e 1%. É natural que o mercado pague menos porque a situação é adversa”, diz.
Mão de obra
Para Daniela Britto, gerente de economia da Fiemg, há uma oferta excessiva de mão de obra, com 13 milhões de desempregados no Brasil, o que dá mais poder para que os contratantes imponham valores mais baixos.
Ela ressalta que as contratações de cargos de chefia estão mais raras e que as empresas vêm investindo em tecnologias que permitem reduzir o quadro de funcionários. “Não há muita contratação de engenheiros, médicos, executivos, e sim de cargos operacionais, que possuem salários menores. Além disso, as instituições estão investindo mais em automação e aquilo que era feito por um profissional qualificado hoje pode ser terceirizado”, explica.
Para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), as expectativas de crescimento para o setor foram frustradas por razões adversas, como a greve dos caminhoneiros e a incerteza política. “Tudo isso trouxe um ambiente menos favorável, além da baixa da projeção do PIB, que também dificultou a geração de empregos”, diz o presidente da Abit, Fernando Pimentel. A Federação da Agricultura (Faemg) não quis comentar a queda salarial no setor, mas afirmou que o quadro pode se agravar.
Sem opção, maioria dos desempregados aceita ganhar menos para voltar ao mercado
Em meio ao mar de desempregados no país e diante da grande dificuldade de recolocação no mercado, 86% dos trabalhadores desocupados afirmam que aceitam um emprego que pague um salário menor do que o contra-cheque anterior.
É o que mostra a 5ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), feito pela empresa de recrutamento Robert Half, com dados levantados nos meses de julho e agosto.
O mestre de obras Edvaldo Pereira Martins, de 51 anos, faz parte desse grupo. Habituado a ganhar em média R$ 4.600, mas desempregado há 4 meses, ele já concorreu a cerca de 40 vagas no período, todas elas com o salário inferior.
Topa tudo
“A maior parte das vagas ofertadas não passa dos R$ 3.400, mas estou disposto a aceitar. A crise está feia e conheço muitas pessoas que estão desempregadas também”, conta.
Para Maria Sartori, gerente sênior de recrutamento da Robert Half, a percepção de Martins está correta. Segundo ela, aceitar uma vaga para ganhar menos não representa, necessariamente, retrocesso na carreira, desde que a decisão seja tomada com sabedoria e de forma consciente.
“É preciso entender que oportunidades com propostas de remuneração agressiva estão raras e é mais válido para a carreira ocupar uma posição que pague menos do que permanecer desempregado”, afirma.
Ela ressalta, porém, que é importante identificar se há, de fato, um plano de crescimento dentro da instituição.
“Durante um processo seletivo, não é só a empresa que escolhe. O profissional também deve usar o networking para entender como funciona a instituição, conversar com profissionais que passaram por ali, ver se o crescimento prometido a médio e longo prazo é factível. Se for um cargo que o fará estagnar, ele pode, sim, desvalorizar a própria carreira”, diz.
Otimismo
Apesar do cenário de recessão e escassez de vagas, a perspectiva é de melhora no ano que vem. Para a Sinduscon-MG, a expectativa é crescer 2,5%. “Provavelmente a construção civil vai começar a sair do buraco”, afirma o economista Daniel Furletti.
O presidente da Abit, Fernando Pimentel, também acredita na possibilidade de melhora para 2019.
“Depende muito do candidato eleito, mas podemos imaginar que, passada a incerteza maior, teremos uma perspectiva de crescimento do PIB, A expectativa é a de que ganhe quem ganhar apresente uma política econômica consistente. Se não acontecer, podemos experimentar de novo um período prolongado de perdas, o que seria uma lástima”, diz.
Por Rafaela Matias - hojeemdia
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