Estudo inédito divulgado nesta segunda-feira (1) pelo Ministério da Saúde expõe o impacto que o adoecimento da população brasileira entre 50 e 59 anos tem na Previdência Social e também como cuidados adequados a esse público garantiriam um período maior de trabalho e, consequentemente, maior tempo de contribuição ao órgão.
A publicação “Fatores Associados ao Recebimento de Aposentadorias entre Adultos mais velhos” – um dos documentos do “Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil)” – conclui que participantes mais jovens (50 e 59 anos) com duas ou mais doenças crônicas ou limitação funcional foram 31% e 63%, respectivamente, mais propensos a receber o benefício. Cerca de 30% dos quase 10 mil indivíduos acompanhados pela pesquisa têm duas ou mais doenças crônicas – 70% têm pelo menos uma enfermidade.
“As evidências chamam a atenção para o fato de que as discussões para elevar a idade de aposentadoria não devem ser separadas daquelas sobre melhorias das condições de saúde da população brasileira, uma vez que nossos resultados mostram que o recebimento precoce do benefício está associado a piores condições de saúde e à limitação funcional”, conclui o relatório.
Eli Iola Gurgel Andrade, professora do curso de Medicina da UFMG que participou do estudo, defende que apenas uma inversão na atual política pública de congelamento de gastos públicos em saúde pode mudar o prognóstico sombrio para o envelhecimento da população brasileira. “É insano falar em idade mínima para aposentadoria diante de uma realidade em que milhões de brasileiros se aposentam cedo por problemas de saúde que poderiam ser evitados”, disse ela.
Coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais, o ELSI-Brasil mostrou também que 75,3% dos idosos brasileiros dependem exclusivamente dos serviços prestados no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que 83,1% realizaram pelo menos uma consulta médica nos últimos 12 meses.
Mas, com os cortes orçamentários, essa dependência se tornou um drama. O escriturário Ronaldo Machado, 58, teve que esperar dois anos para conseguir marcar uma cirurgia na boca. “Dependi do SUS a vida inteira, e o processo sempre foi todo lento. Primeiro, tem consulta, e o médico dá encaminhamento para exame. Só isso leva uns três meses. Depois, você precisa voltar no mesmo médico, que pede outros exames”, conta o escriturário.
A mãe dele, Hellenice da Silva, 78, está internada no mesmo hospital para tratar uma pneumonia. “A gente que depende do governo para tratar a saúde sofre. Falta de tudo: esparadrapo, gaze. Só não é pior porque muitos profissionais tentam compensar isso nos tratando da melhor forma que podem”, diz a paciente. (Com Thuany Motta)
Brasília. A pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais revela ainda que 43% dos brasileiros acima de 50 anos têm medo de cair na rua por causa de problemas nas calçadas e mais de um terço deles (36%) também têm receio de atravessar as ruas.
Em relação à segurança, o estudo apontou que 30% dos idosos brasileiros vivem em regiões muito inseguras e 6% já tiveram a casa invadida. Apenas 4% deles definiram a vizinhança em que vivem como muito segura.
“Não esperávamos resultados tão desfavoráveis”, afirmou a coordenadora do trabalho, a pesquisadora Maria Fernanda Lima Costa. No Brasil, os idosos que vivem em área urbana representam 85% do total.
“Quando você fala de calçada, de receio em atravessar a rua, isso diz respeito à mobilidade urbana, sinalização e respeito e educação no trânsito”, admitiu o ministro da Saúde, Gilberto Occhi. “Isso tudo tem que ser estudado como questão de mobilidade urbana”, disse.
A professora do curso de Medicina da UFMG Eli Iola Gurgel Andrade explica que o “Estudo Longitudinal sobre a Saúde do Idoso” vai permitir, pela primeira vez, que o Brasil compare seu diagnóstico com os de outros países, por utilizar uma metodologia internacional. “O Brasil vive uma situação singular na velocidade do envelhecimento populacional, após a explosão demográfica dos anos 50, 60”.
Eli Iola diz que o país tem “uma janela de oportunidades que continua aberta para que as políticas públicas sejam preparadas para dar proteção social e assistência” aos seus idosos. A médica defende, para isso, retomada de investimentos públicos no SUS.
“A pequena ampliação na atenção primária que tivemos desde 2004 permitiu que os idosos fossem amparados, por exemplo, com atendimento domiciliar”.
O estudo
Embora a legislação considere idosa pessoa com 60 anos ou mais, o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) vai acompanhar a evolução da situação dos brasileiros de 50 a 59 anos.
No país, o estudo foi feito em 70 municípios de todas as regiões.
O custo do trabalho foi de R$ 7,3 milhões – R$ 4,2 milhões do Ministério da Saúde e R$ 3,1 milhões do Ministério da Ciência.
A intenção, segundo o governo, é subsidiar a construção e adequação de políticas públicas de saúde.
Por Aline Reskalla - OTempo
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