RIO — Morreu neste domingo, aos 49 anos, o cantor e compositor carioca Wagner Domingues Costa, conhecido pelo codinome Mr. Catra. O funkeiro estava internado no Hospital do Coração, em São Paulo. A morte foi confirmada por sua assessoria de imprensa. Ele deixa três mulheres, 32 filhos e quatro netos.
Mr. Catra foi internado em dezembro de 2017 para tratar um câncer. Leia a íntegra da nota do Hospital do Coração:
"É com enorme pesar que comunicamos o falecimento do amigo e cliente, Wagner Domingues Costa o Mr Catra, que nos deixou na tarde deste domingo, 09, em decorrência de um câncer gástrico. O cantor e compositor estava internado no hospital do Coração (HCor), em São Paulo, e já vinha lutando contra a doença. A informação foi dada a família pelo cirurgião oncológico, Dr. Ricardo Motta, por volta das 15h20 da tarde. Catra deixou três esposas e 32 filhos. Neste momento de sofrimento, agradecemos o carinho, cuidado e compreensão dos amigos da imprensa, e pedimos, gentilmente, para que respeitem o momento de tristeza da família."
Wagner Domingues da Costa, o Mr. Catra, foi muito mais do que o personagem de inúmeras mulheres e dezenas de filhos. Sua trajetória é paralela a um movimento de aceitação do funk para além das barreiras geográficas entre favela e asfalto. Foi ele, por exemplo, o primeiro artista do gênero a se apresentar no Rock in Rio — convidado por Lulu Santos em 2015. Gravou com Caetano Veloso,
Com sua voz cavernosa e defensor do papel libertário da música, acumulou hits radiofônicos com letras sacanas, como “Adultério” (versão de “Tédio”, do Biquíni Cavadão), “Vem todo mundo” e “Uh papai chegou”. Com seu apadrinhamento, ajudou a revelar outros nomes de ponta do gênero, como Tati Quebra-Barraco e Gaiola das Popozudas, grupo de onde saiu Valesca. Foi com ela que Catra gravou outro grande sucesso, o despudorado “Mama”.
— Quem faz careta para o funk hoje é neto de quem discriminou o samba ontem e bisneto de quem condenou a capoeira anteontem — cravou, em entrevista ao “Extra” em 2014.
Filho do frentista (e passista) Manoel e da doméstica Elza, Wagner cresceu no Morro do Borel, na Tijuca, mas virou Catra por ter sido adotado pela família do patrão de sua mãe, o magnata Edgar Marcos Molina, na rua Dr. Catrambi, no Alto da Boa Vista. A adoção lhe trouxe regalias: Catra estudou em colégios renomados, como o Pedro II, onde foi líder estudantil, tornou-se poliglota (Catra dizia que falava inglês, francês, alemão, hebraico e grego) e formou-se em Direito pela Faculdade Gama Filho.
Apaixonado pelo samba por influência de seu pai biológico, lançou em 2012, um disco dedicado ao gênero, “Com todo respeito ao samba”. Na adolescência, montou uma banda de rock, batizada de O Beco, onde era guitarrista. Em 2016, resolveu matar saudades da época com o projeto “Mr. Catra & Os Templários”, que também rendeu disco.
— Componho em vários ritmos. Faço até louvor! — garantiu, ao falar sobre o disco “Tempo de louvor”, cantado em hebraico e árabe, previsto para sair há três anos, mas que acabou não sendo concluído.
Sua trajetória foi contada em documentário (“90 dias com Catra”), livro (“A estética funk carioca: criação e conectividade em Mr. Catra”, da antropóloga Mylene Mizrahi) e inúmeros programas de televisão — chegou a ganhar um seu, o “Bagulho louco com Mr. Catra”, que foi ao ar no Multishow, em 2016.
Catra ainda fez aparições no cinema, como o hilário comprador de ouro no filme “O roubo da taça” (2016) ou ainda no papel de Deus em “Internet — O filme” (2017).
Mas, claro, Catra foi também um nome de respeito no folclore da cultura popular brasileiras nas últimas duas décadas. Sua vida amorosa era tão movimentada que nem o noticiário mais atento conseguia acompanhar.
— Não falam mal da minha cor nem do meu credo, mas da minha forma de viver. Deviam respeitar, já que ninguém é dono da verdade. A sociedade se liga na razão, mas o que importa é o amor — disse.
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