O artista santeiro Francisco de Fátima teve uma vida breve, interrompida pela doença de Chagas que o vitimou com apenas 25 anos. Apesar da pouca idade, o mineiro de Bocaiúva deixou um rico legado para a arte barroca e gótica. E é essa importante herança que o Centro de Arte Popular-Cemig (CAP), espaço integrante do Circuito Liberdade, exibe até o dia 9 de setembro na mostra “O Legado de Francisco de Fátima – Esculturas”, que conta com 65 peças esculpidas em madeira, produzidas de 1976 a 1982. A entrada é gratuita.
Peças de temática religiosa dominam a mostra, como a cabeça de São Francisco, criada pelo artista em 1979; um pé de mesa produzido em madeira policromada (1981); os dois presépios em que Fátima explora com riqueza de detalhes o mito bíblico e a obra em que ilustra a Santa Ceia (1978).
Com pouca visibilidade em vida, Francisco de Fátima só passou a ser reconhecido quando se deslocou do interior para capital mineira, no fim dos anos 70. A mudança permitiu ao artista conhecer pessoas que apostaram em seu trabalho e o ajudaram a compor algumas exposições coletivas e até uma individual. Entre os nomes que mais deram suporte a Francisco estão os das críticas Maria do Carmo Arantes e Mari’Stella Tristão, que contribuíram para que o escultor passasse a expor semanalmente na feira de arte da Praça da Liberdade, onde conseguiu certa notoriedade entre os habituais frequentadores do local. A mostra Saber Fazer do Autodidata, realizada pelo Museu de Arte da Pampulha e organizada pela museóloga Conceição Piló, colocou Fátima ao lado de nomes conhecidos do cenário da época, como GTO, Artur Pereira, José Valentim Rosa e Maurino Araújo. A primeira mostra individual do artista foi realizada pelo curador Palhano Júnior, no Minas Tênis Clube, o que deu ainda mais visibilidade ao trabalho de Francisco.
Para Tadeu Bandeira, curador da mostra, “a produção do artista absorve toda a sensualidade e emoção da expressão barroca, constituindo uma releitura desse estilo através de uma minuciosa e precisa talha. Os cortes equilibrados na madeira, rico em movimentos e ondulações, com pouca policromia, e leves contornos nos olhos, sobrancelha, boca, cabelo e barba também chamam a atenção”.
O acervo da exposição pertence a coleções particulares, à exceção de duas obras de propriedade do Museu de Arte da Pampulha e uma terceira peça do Conselho Estadual de Cultura.
Sobre o artista
Francisco de Fátima Araújo nasceu em Bocaiúva e começou a esculpir em madeira influenciado por seu irmão, o escultor José Maria Araújo. Nos anos 70, Francisco passa a residir em Belo Horizonte e torna mais intensa sua produção. A convite da crítica de arte Mari’Stella Tristão, o artista começa a expor todos os sábados na tradicional feira de arte realizada na Praça da Liberdade, vendendo suas primeiras esculturas aos tradicionais colecionadores mineiros. Vítima da doença de Chagas, o artista santeiro faleceu aos 25 anos deixando uma vasta obra.
SERVIÇO
Exposição: O Legado de Francisco de Fátima - Esculturas
Período de visitação: até 9 de setembro de 2018
Local: Centro de Arte Popular – Cemig
Endereço: Rua Gonçalves Dias, 1608 – Lourdes
Horário: 3ª, 4ª e 6ª - de 10 às 19h | 5ª - de 12h às 21h | Sábados e domingos – de 12h às 19h
Por Angelina Gonçalves – Ascom Cultura / Fotos: Israel Crispim Júnior
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