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Atraso em repasse para Fapemig dificulta pesquisas em Minas

Cerca de 70% dos 10 mil estudantes já tiveram problemas para receber verbas que têm direito

13/07/2018 às 09h45 Atualizada em 13/07/2018 às 09h52
Por: Redação
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Fapemig entrega benefício para mais de 10 mil estudantes de instituições públicas em Minas
Fapemig entrega benefício para mais de 10 mil estudantes de instituições públicas em Minas

Estudantes que recebem bolsas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) reclamam que o pagamento do benefício, que estaria sendo feito com atraso desde outubro de 2016, está vindo cada vez mais tarde. O dinheiro deve ser transferido até o quinto dia útil do mês seguinte, mas o valor referente a maio só foi depositado para os estudantes nesta semana, e o de junho não tem nem previsão de ocorrer. A situação prejudica o andamento dos estudos e dificulta a sobrevivência dos alunos, que dependem da quantia para arcar com despesas de moradia, transporte e alimentação. Alguns acabam até mesmo desistindo das pesquisas, essenciais para o desenvolvimento do país.

Cerca de 7.000 bolsistas, sobretudo os de iniciação científica, mestrado e doutorado, estão recebendo com atrasos, de um total de 10 mil beneficiados por ano pela Fapemig. As bolsas atendem desde alunos do ensino médio até pós-doutorandos e variam entre R$ 150 e R$ 2.200 – valores não reajustados desde 2013. O problema é ainda mais grave porque os programas de apoio à pós-graduação não permitem vínculo empregatício nem acúmulo de bolsas por parte dos alunos.

A estudante Laís Gomes, 27, precisou pegar dinheiro emprestado para pagar as contas e conseguir se manter. Ela é de Caratinga, na Zona da Mata, mas faz mestrado em direito na Universidade Federal de Juiz de Fora, na mesma região. “Eu nunca recebi no dia certo, mas a situação se agravou no final do ano passado. O problema é que não tem previsão para a bolsa chegar nem diálogo estabelecido com a gente para explicar o que está acontecendo”, disse. Ela contou que, às vezes, atrasa o aluguel e outras despesas. “Não é falta de querer correr atrás de outras coisas. Se eu fosse trabalhar, além de ter a bolsa cortada, teria que devolver para o Estado tudo que já recebi. A gente fica em saída”, conta Laís.

A bolsista Laís diz que a situação prejudica o desenvolvimento da pesquisa, que pode gerar uma série de benefícios: ela estuda como atender mais pessoas que precisam de medicamentos, gastando menos recursos públicos. “A gente não tem a mesma concentração para desenvolver a pesquisa. Eu quero fazer doutorado, mas tenho medo de receber bolsa da Fapemig de novo e ter os mesmos problemas por mais quatro anos”, pontua.

Um doutorando da Faculdade de Letras da UFMG, que pediu anonimato, contou que paga com atraso o aluguel e o cartão de crédito, e os juros consomem boa parte da bolsa. Nascido no interior do Estado, ele precisa se virar sozinho na capital e chegou a ter dificuldades para custear alimentação e transporte. “Fica difícil pensar em pesquisa tendo que se preocupar com as contas que não param de chegar”, lembrou. Ele disse ter colegas que desistiram da pesquisa.

O representante da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) em Minas, Thiago Dias, diz que a entidade mantém diálogo com a Fapemig, mas entende que falta capacidade financeira para solucionar o problema. “O pesquisador deveria ser encarado pelo governo estadual com prioridade máxima. As pesquisas são essenciais e contribuem para o desenvolvimento do país”, alertou.

Sem previsão

Bolsa. A Fapemig afirmou que aguarda liberação financeira da Secretaria de Estado da Fazenda para efetuar o pagamento das bolsas referentes a junho, mas não informou data.

Resultado é saída de estudantes

Em um país que quer crescer e se tornar independente, a pesquisa deve ser mais valorizada, afirma a secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professora da UFMG, Adelina Reis. Ela afirma que a ciência é importante para o desenvolvimento do país em várias áreas.

“A pesquisa gera inovação, que gera independência econômica no país. Senão, a gente vai ficar eternamente dependente do que é produzido fora, tendo que importar tecnologia, quando muita coisa pode ser feita no Brasil”, afirmou. “A pesquisa também forma recursos humanos. A descoberta do pré-sal, por exemplo, só foi feita porque o Brasil tinha competência para fazer a exploração”, disse.

Segundo a professora, a falta de investimento em pesquisa acaba levando estudantes para o exterior, e o país perde. “O aluno não está trabalhando para ele, está fazendo pesquisa para servir à sociedade”, lembrou.

Saiba mais

Resposta. A Fapemig informou, em nota, que o atraso no pagamento das bolsas se deve à situação do Estado. “É de conhecimento público que Minas Gerais, assim como outras unidades da Federação e a própria União, passam por severa crise fiscal, o que, inclusive, motivou a decretação de calamidade financeira em Minas Gerais”.

Menos investimento. O Orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações equivalia, em 2010, a cerca de R$ 10 bilhões (valor corrigido). Em 2017, foram empenhados R$ 4,5 bilhões. Neste ano estão previstos R$ 4,1 bilhões.

Por Rafaela Mansur - OTempo

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