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Educação Crise

Redução do Fies deixa salas de aula das faculdades vazias

Curso de petróleo e gás tem taxa de desistência de 96%, seguido de engenharia de petróleo (85,8%)

16/04/2018 às 10h59
Por: Redação
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Instituições de ensino têm adotado estratégias para deixar as salas cheias de estudantes - Foto: Pixabay/Divulgação
Instituições de ensino têm adotado estratégias para deixar as salas cheias de estudantes - Foto: Pixabay/Divulgação

Mais da metade das salas de aula das faculdades particulares mineiras está vazia, segundo levantamento do site Quero Bolsa. A pesquisa, baseada em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016, aponta que, em média, 50,7% das vagas de instituições de ensino superior no Estado estavam desocupadas. No país, a média é de 52,9%.

Para o diretor do departamento de inteligência de mercado do Quero Bolsa, Pedro Balerine, o enxugamento do fundo do Financiamento Estudantil (Fies) feito pelo governo federal e o desemprego explicam o cenário. “Entre 2010 e 2014, houve um oferta muito grande de financiamento estudantil, e as faculdades se planejaram para atender essa demanda. Porém, houve uma reviravolta a partir de 2015, e o Fies teve corte em investimento. As faculdades se planejaram para uma demanda que não ocorreu”, diz Balerine. Só no mês passado, o então ministro da Educação, Mendonça Filho, anunciou uma redução de 29% nos investimentos do Fies. “O desemprego também agravou esse quadro, porque as pessoas que estudavam e perderam o emprego foram obrigadas a trancar a faculdade”, diz Balerine. Os cursos mais ociosos no país são o de petróleo e gás, com taxa de desistência de 96%, e o de engenharia de petróleo, com 85,8% de ociosidade, conforme o estudo. 

Outra alternativa para manter alunos é o parcelamento das mensalidades. “A faculdade dilui o valor da mensalidade em um período maior que o da duração do curso”, explica o diretor do Quero Bolsa, Pedro Balerine. “Porém, é uma estratégia de risco, que pode gerar inadimplência”, avalia. A oferta de bolsas de estudo é outra estratégia comum das faculdades particulares na crise, destaca Balerine.

Regional. Em Minas, o índice de ociosidade continuou em torno de 50% em 2017, segundo o presidente da Federação dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de Minas Gerais (Fenen-MG), Emiro Barbini. “Muitos alunos desempregados ou em dificuldade financeira deixaram de se matricular em 2017”, conta. Segundo ele, as faculdades estão “procurando se adaptar às regras do Fies”, mas a inadimplência é alta. “Temos escolas que convivem com 35% de inadimplência”, diz Barbini. 

A estudante de direito Camila Miranda, 26, lembra a importância do Fies. “Sem o Fies eu não entraria na universidade. E mesmo com ele foi difícil, pois existiam outros gastos”, afirma. “Passei três anos com a matrícula trancada. Só consegui me manter no curso quando consegui o financiamento de 100% da mensalidade pelo Fies”, diz. Sem o crédito, estudantes também buscam os bancos, mas as taxas de juros chegam a triplicar se comparadas com a do Fies, que é de 6,5% ao ano. 

Pós em BH é a quarta mais barata 

O preço médio das mensalidades dos cursos de pós-graduação em Belo Horizonte é R$ 476, o quarto menor valor na comparação feita entre dez capitais. A média mais alta é a do Rio (R$ 676), seguida por São Paulo (R$ 635). Curitiba, Porto Alegre e Salvador têm cursos mais caros que os da capital mineira.

A análise, feita pelo site Quero Bolsa, considerou 146 instituições privadas entre outubro de 2017 e fevereiro de 2018, e só em cursos presenciais. “As mensalidades mais baratas são de cursos da área de educação. Já os cursos de saúde foram os mais caros em sete capitais”, diz Pedro Balerine, diretor do Quero Bolsa.

Iniciativa leva informação às escolas públicas paulistas

Na opinião do fundador do projeto Salvaguarda, Vinicius Andrade, alunos de escolas públicas não são preparados para o vestibular. Faltam, segundo ele, informação e conteúdo. “Muitos estudantes não sabem nem o que estudar para entrar na faculdade, nem as informações básicas sobre os processos seletivos, como Enem e Sisu”, conta Andrade. 

O projeto realizou uma pesquisa com 1.645 alunos em 25 cidades de 19 Estados. O resultado mostrou que pouco mais da metade sabia como funciona o Enem, menos de 40% conheciam o Fies e menos de 20% sabiam explicar o Sisu. Em Minas Gerais, menos de 50% dos 118 alunos de ensino médio entrevistados conheciam o significado do Enem, mesmo que praticamente 100% já tivessem ouvido falar sobre o exame. 

O Salvaguarda atua em Ribeirão Preto (SP) e já atingiu cerca de 1.400 alunos – até o fim deste ano, pretende chegar a 4.000. O projeto, que tem 300 voluntários, trabalha informando aos alunos sobre o acesso à faculdade e ao conteúdo. Andrade inspirou-se no próprio exemplo. Ele foi aluno de um pré-vestibular popular e hoje cursa economia na Universidade de São Paulo (USP).

Por Ludmila Pizarro - OTempo

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