Embora os pais estejam cada vez mais conscientes do valor de uma boa autoestima para uma vida adulta bem-sucedida e feliz, e de estarem cada vez mais informados quanto à importância do seu próprio papel no processo de desenvolvimento dos seus filhos, os adolescentes de hoje em dia parecem cada vez mais frágeis e inseguros. Vemos exemplos disso no aumento do uso de drogas, na idade cada vez mais tardia em que saem da casa dos pais, e dão início à própria vida adulta e nas dificuldades que enfrentam em seus primeiros anos de independência.
Ao perceberem a adolescência estendida em que vivem seus filhos, muitas vezes até os 30 anos, os pais ficam confusos, sem entender onde erraram. Provavelmente de uma geração na qual prevaleciam as críticas e valorizava-se a obediência incondicional, os pais destes jovens adultos fizeram tudo diferente e, no entanto, o resultado ficou bem aquém do esperado. O que aconteceu?
Elogios podem distorcer confiança dos filhos
O psicanalista e professor da University College London Stephen Grosz tenta nos dar uma ideia a respeito. Com base em suas mais de 50.000 horas de experiência como psicanalista, ele observa que o elogio excessivo pode ser prejudicial para o sentido de valor e confiança pessoal. Ele diz que, hoje em dia, elogiamos nossos filhos demais por acreditarmos que assim se constrói a autoestima, que dará lugar a maior autoconfiança e, consequentemente, a grandes criações na vida adulta. Mas pesquisas atuais sugerem o contrário. Na última década, vários estudos sobre autoestima indicam que o foco e o elogio da inteligência de uma criança, por exemplo, pode ser prejudicial na escola, levando inclusive a um desempenho ruim.
Como? Embora pareça positiva, a crença de ser especial (superdotada, inteligente, maravilhosa, etc.) pode funcionar como uma barreira para que a criança se aventure além dos limites estabelecidos por seu "talento", levando-a a desistir mais facilmente diante de situações desconhecidas ou desafiadoras. Isto porque, ao crer-se especial, a criança pode inconscientemente visualizar-se no ápice dos seus próprios recursos.
Assim, ao receber um novo desafio, ela aplicará os mesmos recursos usados anteriormente, quando foi elogiada, para resolver o problema. Se não conseguir, assumirá que a solução de tal problema é impossível. E quando outras crianças "não especiais" conseguirem solucionar o desafio que lhe havia sido apresentado e que ela não conseguiu, sua autoestima sofrerá um golpe do qual será difícil se recuperar. Afinal, se ela é tão especial e inteligente, como a criança ao lado conseguiu solucionar o problema e ela não? Na falta de provas concretas dos resultados geniais a ela atribuídos, ela passará a desconfiar dos futuros elogios e da sua própria capacidade de criação e execução.
Aplausos reforçam autoimagem idealizada
Grosz cita o famoso estudo de 1998 da psicóloga Carol Dweck e Claudia Mueller para ajudar a explicar este dilema. Neste estudo, dividiu-se 128 crianças de 10 e 11 anos em dois grupos. Todas tinham que resolver problemas matemáticos, mas um grupo foi elogiado por seu intelecto ("Você fez muito bem, você é muito inteligente") enquanto o outro foi elogiado pelo seu esforço ("Você fez muito bem, se nota que você se dedicou a solução deste problema").
Após a solução do primeiro problema, as crianças receberam um desafio mais complexo. Observou-se que aqueles que anteriormente foram elogiados por seu trabalho duro abordaram a dificuldade com muito mais resiliência e disposição, e tentaram soluções diferentes sempre que chegavam a um beco sem saída, até encontrarem o resultado final.
Em contrapartida, naqueles que haviam sido elogiados por sua inteligência prevaleceu a ansiedade com o próprio resultado e o medo do fracasso. Com isso, usaram os recursos anteriores, aplicados para solucionar o primeiro problema (pelo qual foram elogiados) e, quando não conseguiram, desistiram de buscar uma solução.
Na última parte do experimento, os pesquisadores pediram para escreverem uma carta a crianças de outra escola contando sobre sua experiência. Algumas das que foram elogiadas por sua inteligência mentiram a respeito de suas notas e resultados, tentando manter para si mesma e para os demais a autoimagem idealizada construída pelo elogio.
Frutos de uma cultura que priorizava a disciplina e a obediência, onde pouco afeto e contato físico eram dedicados às crianças, os pais de hoje em dia estão imbuídos do desejo de educar os próprios filhos de maneira mais amorosa, atenta e humana. Mas, infelizmente, a abordagem diferenciada não está contribuindo para o senso de autoestima dos pequenos. Ao se esforçarem para ser diferentes dos próprios pais, eles na verdade estão fazendo a mesma coisa: distribuindo elogios vazios do mesmo modo que a geração anterior distribuía críticas impensadas. Com isso, o elogio de hoje expressa o mesmo sentimento que a crítica impensada de ontem: indiferença.
Mas se elogio não constrói autoestima, o que constrói?
O erro está em acreditar que a falta de elogios prejudica a autoestima e que seu oposto, a presença de elogios, a constrói. O que de fato constrói o valor pessoal de uma criança é sentir-se vista.
Para sustentar esta ideia, Grosz conta que a professora de leitura terapêutica Charlotte Stiglitz, de 80 anos, mãe do economista ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, nunca elogiou uma criança por fazer o que deveria ser capaz de fazer em sua idade. Ela elogiava quando faziam algo realmente difícil, como compartilhar um brinquedo ou demonstrar paciência, e sempre agradecia quando o faziam.
O método de Charlotte consistia, então, em prestar atenção no que a criança fazia e em como ela fazia.
Ele conta que uma vez observou um menino de quatro anos que estava desenhando. Ele parou e, talvez à espera de elogios, olhou para ela, que sorriu e disse: "Há muito azul no seu desenho". Ele respondeu: "É a lagoa perto da casa da minha avó, há uma ponte." Ele então pegou um lápis de cera marrom e disse: "Eu vou lhe mostrar". Sem pressa, ela conversou com a criança e a escutou com atenção. Ela estava presente.
É a presença que ajuda a construir a confiança da criança, porque lhe mostra que ela é vista, que tem importância e é digna dos pensamentos e da atenção do observador. Por outro lado, quando o outro está fisicamente presente, mas ausente em pensamentos e sentimentos, é comunicado à criança que aquilo que ela está fazendo é inútil, e que ela tem valor somente pelos resultados que produz, não por si mesma. Seu mundo, em si, não importa. Com isso, ao ver-se diante da possibilidade de falhar na entrega de um resultado, esta é dominada por ansiedade e medo de falhar. Afinal, ela só é vista quando produz algo excepcional. Seu valor reside naquilo que ela faz, não naquilo que ela é.
Estar presente faz diferença
Para exemplificar, voltemos à história da professora. Quando o menino lhe mostrou seu desenho, a reação mais fácil teria sido "nossa, que lindo, como você desenha bem!". Assim, um elogio fácil, vazio, com um sorriso, a liberaria da sua demanda por atenção para que ela seguisse em sua atividade. No entanto, ela preferiu aproveitar o momento para interagir com o menino. Ela observou o seu desenho e comentou o que lhe chamou a atenção, dando-lhe a oportunidade de contar mais a respeito. Diante do seu interesse, ele começou a explicar e a compartilhar um pedaço do seu mundo com ela. A decisão da professora prolongou e aprofundou uma interação que, do contrário, teria se limitado a menos de um minuto: ela teria feito o elogio e ele teria retornado à sua atividade. Com o interesse da professora, no entanto, o menino se sentiu visto e importante, que é o que constrói a autoestima.
Outros exemplos incluem:
Manter-se mental e emocionalmente presente quando estamos com nossos filhos, com amigos, no trabalho ou com familiares nem sempre é fácil. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, tantos estímulos que nos chegam de tantos lugares, tantas demandas sobre a gente, que hoje o Mindfulness está em seu ápice para nos ensinar a estarmos sempre no momento presente. A certeza de que alguém está focado na gente é mais relevante que elogios. Não é isso que nos faz sentir importantes e amados? É assim que adquirimos a autoconfiança necessária para enfrentar o mundo.
Se nós, adultos, precisamos tanto disso, imagine as nossas crianças? Talvez, se elas receberem isso desde agora de seus pais e familiares, trarão dentro de si autoestima suficiente para se autonutrir quando o mundo externo deixar a desejar.
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