São Paulo. O Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFP) publicou uma carta aberta em seu site criticando a novela “O Outro Lado do Paraíso”, exibida pela Rede Globo em seu horário das 21h, em especial ao núcleo que envolve a personagem Laura, vivida por Bella Piero. Antes, algumas cenas de internação já haviam gerado revolta entre psiquiatras.
Na trama, Laura tem dificuldades para ter intimidades com seu marido, Rafael (Igor Angelkorte), por conta de abusos sexuais que sofreu de seu padrasto Vinícius (Flávio Tolezani) na infância. Ela busca ajuda profissional, mas em vez de ir a um psicólogo, procura sessões de hipnose e coaching, o que é desaprovado pelo conselho.
Na carta, a entidade reconhece que trata-se de uma obra de ficção, mas que ainda assim é capaz de “formar opinião” e presta um “desserviço à população brasileira ao tratar com simplismo e interesses mercadológicos” o sofrimento da personagem que foi abusada sexualmente em sua infância.
A instituição ainda ressalta que as obras da emissora são conhecidas por trazer temas importantes para a sociedade como forma de “elevar a audiência”, “embaralhando” barreiras entre ficção e realidade.
“Pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da psicologia, pois são os que têm a habilitação adequada. Isso é amplamente reconhecido por diversas políticas públicas, entre elas o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que empregam esses profissionais em larga escala. As mais prestigiadas universidades públicas e privadas oferecem formação em psicologia, e nossa ciência e profissão passa rotineiramente pelo escrutínio das pesquisas acadêmicas”, prossegue.
“O CFP faz um alerta à sociedade para que não se deixe iludir. As pessoas devem buscar terapias adequadas conduzidas por profissionais habilitados para os cuidados com a saúde, particularmente a saúde mental”, ressalta o comunicado.
Por fim, ainda elogiam a postura de outras instituições: “Saudamos como positiva a manifestação de diversos grupos e escolas de coaching, que, manifestando-se sobre o ocorrido, afirmaram compreender que os transtornos mentais devem ser cuidados por profissionais da saúde mental”.
Em nota, a Rede Globo defendeu-se dizendo que “as novelas são obras de ficção, sem compromisso algum com a realidade”. “A Globo reconhece a importância de todos os seus programas para discussões e reflexões sobre assuntos de interesse da sociedade e está atenta à responsabilidade que lhe é atribuída sobre todos os temas abordados”, afirmou a emissora.
“O que a novela ‘O Outro Lado do Paraíso’ quer mostrar com o desenvolvimento da trama da personagem Laura é o processo pelo qual passa uma pessoa que precisa de ajuda, recorrendo a diferentes e variadas formas de apoio e terapias, das mais às menos ortodoxas”, continuou.
“É importante reiterar, ainda, a seriedade com que a novela ‘O Outro Lado do Paraíso’ tem abordado, desde a estreia, questões relacionadas a diferentes tipos de abuso e preconceito”, ressaltou.
Fonte: OTempo
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