Eles usam as redes sociais com desenvoltura e protagonismo, têm seus próprios canais, e alguns se tornam verdadeiras celebridades no mundo virtual. A pouca idade não é mais uma barreira para o amplo acesso de crianças e jovens às possibilidades – e aos riscos – do ambiente virtual. Em todo o mundo, um em cada três usuários de internet é uma criança, segundo o relatório “One in Three: Internet Governance and Children’s Rights”, baseado em vários estudos coordenados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicado em 2016.
A estudante Amanda de Carvalho, 13, usa desde os 7 anos seu canal no YouTube (Vida de Amy) para postar vídeos divertidos e mostrar sua vida. Hoje, ela conta com quase 500 mil inscritos. No Brasil, esses perfis são um fenômeno. Cerca de 48 dos cem canais mais populares do YouTube abordam conteúdo para crianças de 0 a 12 anos.
A mãe da menina, a fonoaudióloga Sheila Carvalho, 45, conta que tudo começou como uma brincadeira e uma forma de ela acompanhar o desenvolvimento da fala da filha, que tem deficiência auditiva. “Eu neguei o canal por dois anos, mas depois sugeri fazermos juntas para poder controlar. Aí ela começou a gostar, e as pessoas começaram a pedir outras coisas”, diz.
A mãe lembra ainda que o aparelho auditivo usado por Amanda acabou despertando a curiosidade dos seguidores – na maioria das vezes, de forma positiva. “Foi legal porque ela começou a falar da deficiência e mostrar esse outro lado. Infelizmente, a grande maioria não sabe que o surdo pode falar, sim, e pode ter uma vida com as mesmas oportunidades que uma criança ouvinte. Foi também uma forma de ela motivar até mesmo crianças com outras deficiências”, afirma Sheila.
O estudo “The State of the World’s Children 2017: Children in a Digital World” colheu 63 mil respostas de jovens entre 13 e 24 anos em 24 países e mostrou que o acesso vem acontecendo cada vez mais cedo e revelou que a juventude de 15 a 24 anos é a mais conectada. Em todo o mundo, 71% dela está online em comparação com 48% da população total.
O levantamento apresenta ainda as diferentes maneiras pelas quais a tecnologia digital está mudando cada vez mais a infância. Quanto aos riscos, incluindo o uso indevido de informações privadas, o acesso a conteúdos prejudiciais e o ciberbullying, o Unicef alerta que os smartphones estão alimentando uma “cultura de quarto”, com acesso online tornando-se mais pessoal, mais privado e menos supervisionado, ampliando as ameaças e tornando as crianças ainda mais vulneráveis.
Acesso. A onipresença de dispositivos móveis, de acordo com outra pesquisa realizada por Mobile Time e Opinion Box, é realidade para praticamente três em cada quatro crianças de 10 a 12 anos que possuem um aparelho próprio.
O estudo ouviu 545 adultos brasileiros que possuem smartphone e têm filhos de 0 a 12 anos e mostrou ainda que quem mais influencia as crianças a querer um smartphone são amigos (40%), televisão (22%), pais (20%), irmãos e primos (18%) e que, em geral, depois que a criança realiza o sonho de ter o próprio celular, o monitoramento por parte dos pais fica mais relaxado. Cai para 67% a proporção que estipula um limite máximo de tempo de uso por dia, em geral de duas horas ou mais.
A psicóloga Vanina Dias, professora universitária e pesquisadora dessa temática há seis anos, atualmente investiga 50 famílias, numa parceria entre a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e a Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná. No estudo com adolescentes de 15 a 17 anos e pais acima de 70 anos, ela percebeu que, “para o jovem, a internet se tornou um modo de ampliar a socialização”. “Hoje os filhos têm o domínio maior por terem nascido no século da informação. Já os mais velhos têm mais dificuldade. Então, quem ensina sobre o uso das tecnologias são os filhos”, afirma.
41% das crianças na faixa de 0 a 3 anos usam o aparelho celular dos pais
44% dos pais pretendem dar um celular a seus filhos antes dos 11 anos
36% das crianças até 12 anos já pegaram escondido o telefone dos pais
65% dos pais vigiam “sempre” ou “na maioria das vezes” o que os filhos acessam
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